Frederico Lourenço Galardoado com o Prémio D. Diniz
Frederico Lourenço foi galardoado com o Prémio D. Diniz, um dos mais importantes de Portugal, pela tradução de Odisseia, de Homero. É a primeira vez que uma tradução é distinguida com este prémio.
Atribuído pela Fundação Casa de Mateus, em Vila Real, o D. Diniz foi instituído em 1981 e distinguiu obras de ensaio, ficção, poesia (Eduardo Lourenço, António Lobo Antunes, Sophia, são alguns dos galardoados). Também por isso, Frederico Lourenço, romancista (autor de "Pode um Desejo Imenso", "O Curso das Estrelas" e "À Beira do Mundo") disse ontem ter ficado "absolutamente surpreendido": "Nunca imaginei ganhar o D. Diniz. Com toda a sinceridade, fiquei estupefacto."
A proposta inédita de distinguir uma tradução foi feita por Vasco Graça Moura, e aceite pelos outros dois membros do júri, os poetas Nuno Júdice e Fernando Pinto do Amaral.
No ano passado, Graça Moura considerou Odisseia (edição Cotovia) "o acontecimento cultural mais importante do ano", e ontem justificou que "o regulamento não impede [que o prémio seja atribuído a uma tradução]". Até porque esta tradução, do grego, é "uma recriação literária, tem plena justificação".
Recordando que existem duas traduções integrais desta obra de Homero que são "desinteressantes", "sem qualidade", Graça Moura justifica a atribuição do prémio pela "qualidade literária", pelo "registo de oralidade que [o tradutor] encontra e que é característica dos poemas homéricos", e ainda por ser "uma tradução que nos coloca perante a sensação de uma língua com certas asperezas, de uma oralidade primitiva". O poeta e eurodeputado classifica a tradução de Lourenço como "extraordinária" e "extremamente inovadora em termos do registo da linguagem que consegue encontrar".
E acrescenta: "Parece que estamos a ler o texto no original e, pela primeira vez, a redescobri-lo."
Para Frederico Lourenço (n. 1963), que traduziu peças de Eurípides ("Hipólito", "Íon") e está agora a trabalhar na "Ilíada", de Homero, a Odisseia continua a ser "o mais interessante e mais belo livro que existe", "absolutamente incomparável".
Lourenço confessa que começou a tentar traduzir Odisseia em 1988. Houve mesmo períodos em que quase desistiu: "O grande momento foi quando decidi traduzir em verso e tentei reproduzir a musicalidade." A tradução "não é o ponto final" na leitura de um texto que o professor de grego da Faculdade de Letras de Lisboa conhece e estuda há anos: "É um texto que ainda quero descobrir" - "É tão rico, tão humano; as personagens são tão envolventes e os problemas humanos retratados são tão actuais, intemporais..."
A tradução de Frederico Lourenço é a única disponível em verso; existe uma da Europa-América (não directamente do original) e outra da colecção Sá da Costa. Porque é que tão poucos se aventuraram a traduzir esta obra? Maria Helena Rocha Pereira, a mais reconhecida helenista portuguesa, que considera a atribuição deste prémio à tradução de "uma das grandes obras-primas da Humanidade" "perfeitamente" justa, diz: "Não é fácil, trata-se de uma obra extensa. E uma das grandes dificuldades que os tradutores podem apontar é a da equivalência das fórmulas fundamentais, característica no estilo homérico." Mas, para a helenista, esta tradução "é das melhores que se tem feito, pela cadência e ritmo que o autor manteve", e que "não pode ser do original - é uma poesia que obedece a esquemas quantitativos quanto às sílabas, não é possível arranjar um equivalência exacta, mas ele arranjou uma forma de transpor o esquema para a nossa métrica."
Odisseia, de Homero, saiu em Maio de 2003 e vai já na terceira edição (dois mil exemplares cada).
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