Quando em 2001 o Eurostat anunciou que dentro de 50 anos a população de Espanha estaria reduzida a metade, a primeira pergunta que ocorria a um português atento era: "Caramba, e quem vai dirigir as nossas empresas nessa altura?" Não era xenofobia -era objectividade. Porque o nosso universo empresarial era há dois anos (e continua hoje a ser) um palco privilegiado para os espanhóis se testarem para lugares de maior responsabilidade no país vizinho.
Para os portugueses que pensam gerir-se a si mesmos, o medo é cíclico: "Na próxima semana vem cá o espanhol..." Para os que reportam directamente a um director-geral castelhano, o pânico é permanente: "Fala baixo, que o espanhol ainda te ouve..." Os yuppies são, por isso, os primeiros agentes avançados do intercâmbio cultural entre os dois países ibéricos. E compreender a verdadeira essência das relações entre Portugal e Espanha jamais poderia fazer-se sem viajar até ao seio das empresas miltinacionais.
Reflexões de Um Espanhol em Portugal (edição Dom Quixote, com prefácio de José António Saraiva) é um livro estruturalmente simples, não especialmente bem escrito, mas vem preencher esse vácuo há muito existente no mercado livreiro nacional. "Simples e não especialmente bem escrito", aliás, é outra das suas virtudes: fala sobre gente comum, não literata, com a linguagem de gente comum.
Chegado a Portugal no Verão do ano 2000 para ocupar um cargo de director-geral da Procter & Gamble em Lisboa, Federico J. González decidiu repetir aquilo que já fizera aquando da sua passagem pela Suécia - sobre a qual escreveu Cómo Hacerse el Sueco en los Negocios con Éxito - anotando, reflectindo e traçando matrizes entre os pequenos episódios ocorridos no quotidiano entre portugueses e espanhóis a trabalhar em Portugal.
Não é um livro sobre "como fazer um milhão": é uma viagem à natureza humana e à diversidade cultural através da qual aquela consegue revelar-se, apesar de um milénio de vizinhança entre os dois países.
[Grande Reportagem, 15 de Maio de 2004]
2 comentários:
De esto habría mucho sobre lo que escribir. Sobre las experiencias de mi familia dirigiendo empresas en otros países, incluso de habla española, como Colombia y Venezuela, y las diferencias en el trato de ambos paises con España, con su historia, con su gente...
Tu não és anónimo homem! És 'bloguista'! :-)
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