Encontrada a Prova Mais Antiga da Amizade Entre Gatos e Humanos
A primeira domesticação de gatos selvagens é geralmente associada à civilização egípcia, mas a relação especial entre homens e gatos pode ser bem mais antiga. Cientistas do Museu Nacional de História Natural de Paris descobriram o esqueleto de um gato enterrado junto aos restos mortais de um humano, ambos com cerca de 9500 anos, na ilha mediterrânica de Chipre.
Já durante os anos 80 fora descoberta, enterrada, uma mandíbula de gato nesta ilha. Não se conhecendo espécies nativas na zona, a descoberta significava que este animal tinha sido introduzido pelo homem, mas não provava que este tivesse sido domesticado. De facto, durante o Neolítico várias espécies selvagens foram introduzidas pela mão do homem em muitas outras ilhas. A raposa, por exemplo, foi introduzida em Chipre neste período.
Mas o esqueleto de um gato enterrado a uns escassos 40 centímetros de um humano mostra, pelo contrário, que uma relação próxima entre eles se terá desenvolvido há cerca de 9500 anos, no sítio de Shilourokambos, uma aldeia do Neolítico habitada desde o final do nono e até ao oitavo milénio antes de Cristo. "A primeira descoberta de ossos de gato em Chipre mostrou que os seres humanos trouxeram gatos do continente para as ilhas, mas não conseguíamos decidir se estes gatos eram selvagens ou domesticados", explica Jean-Denis Vigne, responsável pelo estudo, citado num comunicado de imprensa da revista "Science". "Com esta descoberta podemos dizer que estes gatos estavam ligados aos humanos."
O túmulo continha várias ferramentas, pedras polidas e jóias, que se acredita serem oferendas, e um buraco muito próximo, escavado na terra, guardava 24 conchas do mar. Jean-Denis Vigne encontra nesta disposição ritual um sinal de intimidade entre o animal e o homem: "A associação deste túmulo com as conchas marítimas e a sepultura do gato reforça a ideia de um enterro especial, indicando uma forte relação entre gatos e seres humanos."
O estado relativamente intacto do esqueleto do gato e a observação dos sedimentos em volta indicam que o buraco onde este estava enterrado foi escavado. Os investigadores pensam que se o gato não tivesse sido enterrado de forma intencional, os ossos estariam dispersos e desarticulados. Para além disso, a análise microscópica não permitiu desvendar a causa da morte - não foram encontrados cortes nem queimaduras - mas deixou claro que o felino não foi desmembrado ou esquartejado antes do enterro.
Outros restos de animais já haviam sido encontrados em túmulos colectivos, mas eram apenas ossos isolados e nunca esqueletos completos. O enterro de um gato completo, dizem os investigadores, sem quaisquer sinais de esquartejamento, recorda-nos os túmulos humanos e enfatiza a ideia do animal como indivíduo. E o facto de estarem enterrados lado a lado pode também implicar uma forte associação entre os dois indivíduos, um gato e um humano.
Ambos os esqueletos estavam posicionados simetricamente, com a cabeça na direcção de Oeste.
"Não estou completamente convencido que a orientação comum dos esqueletos faz sentido. No entanto, se fizer, penso que a grande proximidade entre os dois na morte deve ser interpretada como prova adicional de uma forte relação em vida", diz Jean-Denis Vigne.
Os cientistas analisaram o esqueleto e definiram que o felino devia ter à volta de oito meses de idade. O crânio apesar de muito danificado, estava suficientemente bem preservado para, pela forma e pelo tamanho, deixar adivinhar a espécie: um "Felis silvestris", de tamanho significativamente maior do que os actuais gatos caseiros.
[in Público]
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