Um ser vagamente melancólico, com predisposição para a nostalgia dos gloriosos tempos dos seus egrégios avós, enquanto acumula pequenas derrotas diárias que aceita com resignação. Foi esta a imagem do português com que crescemos, a que ouvimos milhares de vezes em cafés, programas de televisão, jornais, livros e no cinema: somos o povo do fado, não sabemos dançar como o irmão brasileiro, não sabemos fazer a festa como o vizinho espanhol, não temos o dom de nos auto-depreciarmos com gosto como o civilizado amigo inglês. E, no entanto, esta gente ri-se. Assim de repente, e recorrendo apenas a exemplos inevitáveis, riu-se do provincianismo das suas elites (com Eça), riu-se da mesquinhez de, bem, de toda a gente (com Camilo), riu-se do absurdo dos seus atavismos e dos seus ascensores sociais (com Herman), riu-se da sua linguagem vazia (com o Gato Fedorento). No entanto, riu de quê e como? Quantas vezes e porquê? Mais que tudo: riu-se em português? Ao longo dos séculos temos teorizado sobre...