Como sempre, leio com grande interesse os últimos números das revistas sobre livros. E constato que em mais de cem recensões às obras estrangeiras recentemente publicadas não há uma única referência à tradução, à excepção da indicação do nome de tradutor. Será que a tradução de A Montanha Mágica de Thomas Mann, directamente do alemão (832 páginas), de Mar de Papoilas de Amitav Gosh, finalista do Booker (456 páginas), de Vida em Surdina de David Lodge, um autor cujas traduções tantos desafios apresentam, não merecem um comentário? Será que nem os críticos se lembram de que, sem os tradutores, essas obras não chegariam aos leitores portugueses?
Obviamente, não é o facto de os livros que referi terem tantas páginas que justifica o destaque que deveria ser dado à tradução. É o trabalho que isso envolve, as longas horas de entrega, de dúvidas, de pesquisa, de esforço criativo a que qualquer tradução obriga para ser bem feita.
Infelizmente, enquanto há sempre qualquer coisa a dizer sobre as obras publicadas, nem que sejam abjectas, nem que não sejam literatura, nem que sejam obra, não dos autores, mas dos editores, dos revisores, sobre a tradução não há nada a dizer – excepto se for má, porque então – aha! – então, vamos falar da má qualidade da tradução.
Isto não é um bom serviço prestado a esta arte maior. É, pelo contrário, a descrédito, o lugar menor, a que ela é votada por todos, incluídos os editores.
Sei que estas palavras são duras, mas é muito frustrante assistir há tanto tempo a esta tendência e não haver forma de a inverter. Aliás, ela tende precisamente a agravar-se – como o provam os preços cada vez mais baixos pagos pela tradução literária.
Caros leitores: têm agora ao vosso dispor a versão dessa obra fundamental que é A Montanha Mágica, traduzida directamente do alemão por Gilda Lopes Encarnação. Pensam nela quando estiverem a ler o livro, pois é graças a ela que podem lê-lo.
[16-06-2009] | Maria do Carmo Figueira
PNETLiteratura
Por indicação da Poison Ivy ;)
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