A Rússia política e literária em Fernando Pessoa
À parte algumas referências de passagem, os ecos da literatura russa em Fernando Pessoa só se podem encontrar na sua biblioteca: Turgueniev, Tchekhov, Dostoievski
Muito pouco se tem feito neste campo no que toca a Fernando Pessoa, o que é surpreendente se tivermos em conta o facto de que a sua biblioteca pessoal se encontra intacta em Lisboa, quase como a deixou quando morreu em 1935. É uma biblioteca relativamente pequena mas que merece a maior atenção pela existência de inúmeros sublinhados, notas e comentários devidos a Pessoa durante a sua leitura sempre criteriosa dessa fascinante variedade de livros, a maior parte dos quais em inglês e francês.(...)
Os sonetos são assinados por Alexander Search e, ainda que menores, têm a importância de fazerem a demonstração poética do descontentamento de Pessoa em relação ao tratamento dado pelos Ingleses aos Russos.
To England
(When English journalists joked on Russia's disasters.)
I.
How long, oh Lord, shall war and strife be rolled
On the God-breathing breast of slumbering man,
Horrible nightmares in the doubtful span
Of his sleep blind to heaven? As of old,
Shall we, more wise, in frantic joy behold
The bloody fall of nation and of clan,
And ever others' woes with rough glee scan,
And war's dark names in Glory's charts inscrolled? (??)
We now that in vile joy our egoist fears
Behold dispelled, one day shall mourn the more
That blood of men erased them bitter tears
Of desolated woe, as wept of yore
(Yet not for the short space of ten long years)
The grecian archer on the Lemnian shore.
19th June, 1905
II.
Our enemies are fallen; other hands
That ours have struck them, and our joy is great
To know that now at length our fears abate
From hint(?) and menace on great Eastern lands.
Bardling, scribbler and artist, servile bands,
From covert sneer outsigh their trembling hate
Laughing at misery, and woe, and fallen state,
Armies of men whole-crushed on desolate strands.
The fallen lion every ass can kick,
That in his life, shamed to unmotioned fright,
His every move with eyes askance did trace.
Ill scorn beseems us, men of war and trick,
Whose groaning nation poured her fullest might
To take the freedom of a former (farmer?) race.
19th June, 1905
(...)Preferia Turgueniev
Ainda que a biblioteca de Pessoa nada nos indique sobre eventuais leituras das obras de Tolstoi, ela parece sugerir que as suas preferências vão para Ivan Turgueniev e que o seu interesse pela literatura russa foi mais do que casual, possivelmente suscitado pela leitura de Turgueniev. Os três romances de Turgueniev existentes na biblioteca de Fernando Pessoa são traduções francesas:
1) Scènes de la vie russe. Paris: Hachette, 1910.
2) Mémoires d'un seigneur russe. 2 vols. Trad. Ernest Charrière. Paris: Hachette, 1912.
3) Nouvelles Scènes de la vie rase. Paris: Hachette, 1913.
Turgueniev é geralmente considerado como o mais europeu dos romancistas russos, e não é surpreendente que Pessoa. preferisse a prosa equilibrada, quase poética, deste autor ao evangelismo de Tolstoi (Tolstoi como romancista era praticamente desconhecido em Portugal na altura) ou ao estilo inconstante e carregado de emoção de Dostoievski.
Todo o ensaio numa página do Instituto Camões na memória cache do Google.É o que se pode arranjar :|
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