07 fevereiro 2020

Pão!

Era uma vez um pão que vivia revoltado. Sentia-se moído desde o primeiro grão e amassado desde o primeiro dia. Detestava que o confundissem com os outros pães e que dissessem que era da mesma fornada. Não conseguia impedir algumas migalhas de raiva quando diziam que era tudo farinha do mesmo saco. Não. Ele não tinha nascido para pão de forma. Era inconformado. Sabia de que massa era feito. Sentia uma facada sempre que ouvia perguntar se era fresco. Era o pão de cada dia. Mas depois lá acalmava. Tinha a côdea dura, mas o miolo era mole. Uma certa altura, farto de ser pão para toda a colher, decidiu fugir com um queijo tradicional. Pão pão, queijo queijo. A relação não durou muito tempo, o queijo amanteigou-se com uma broa. A tradição já não é o que era. Dizem as más-línguas e as boas bocas que, perante tal desilusão, entrou num convento e se tornou num devoto pão de Deus.

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