Portugal, todos nós, construiu uma dívida pública que atingiu os 79% do PIB no final de 2009, e que deverá ficar pelos 108% do PIB no final de 2012. Quando a Argentina “estourou” em 2001 a sua dívida pública era de 62% do PIB, ou seja, a situação não era mais grave do que a nossa actualmente. E foi o que foi, lembram-se?
Sabendo que o PIB são cerca de 164 mil milhões de euros (em 2009), e que Portugal tem cerca de 10 milhões de pessoas, isto significa que cada Português deve ao estrangeiro cerca de 16 mil euros (valor aproximado fazendo a dívida igual a 100% do PIB). Vendo isto de outra maneira, cada criança que nasça em Portugal por estes dias, já nasce com uma dívida que ronda os 16 mil euros.
Será por isso que cada vez nascem menos crianças no país?
Os pais não têm coragem de lhes fazer tamanha maldade?
:-)
A situação é verdadeiramente crítica e tem de ser encarada com seriedade o que parece não estar a ser feito. O deficit orçamental previsto no orçamento de 2010 é de 8.3% (o de 2009 foi de 9.3%), ou seja, parece que o plano preparado para resolver o problema não é suficiente, ao ponto de Simon Johnson (anterior economista chefe do FMI) ter declarado recentemente que “os portugueses nem estão a considerar ainda cortes sérios”.
Mas mais importante do que resolver o problema financeiro monstruoso que foi criado é atacar as causas que lhe deram origem. E as causas são bem claras:
1. Portugal vive acima das suas possibilidades, gasta mais do que aquilo que produz, isto é, tem um nível de vida que não é compatível com os rendimentos que tem;
2. Não existe em Portugal, a todos os níveis, uma cultura baseada no trabalhocomo forma de obter resultados sustentáveis;
3. O mérito não é premiado como forma de incentivar as pessoas a ultrapassarem objectivos, indo para além do que lhes é solicitado;
4. Não existe uma cultura empreendedora e de risco, com bons exemplos, que incentivem as pessoas a contarem consigo próprias, desenvolvendo estratégias para melhorarem as suas condições de vida. Os Portugueses parecem vencidos, descrentes e desmotivados o que torna muito difícil incentivá-los a fazerem alguma coisa por si próprios. Muitos, a maioria, limita-se a esperar que algo aconteça e a reclamar de tudo e de todos;
5. Não existe uma cultura de exigência a todos os níveis, o que permitiu que a mediocridade se instalasse e criasse raízes procurando por todos os meios (corrupção e amiguismo) manter-se no poder;
6. Portugal não tem uma elite forte, honesta, culta e responsável, que possa ser referência de comportamento e garante da resolução eficaz e sustentável dos problemas que nos afligem. Muitos dos exemplos que recebemos são de pessoas que usam os lugares do estado e das empresas para tratarem da sua vida ao arrepio dos mais elementares valores éticos e de solidariedade.
São estes os nossos problemas. Sinceramente não vejo propostas para os resolver, nomeadamente sabendo que alguns são problemas culturais que demoram gerações a solucionar.
J. Norberto Pires in De Rerum Natura
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